"Não queremos a exposição... Capoeira
é folclore BAIANO"! (diretora de EP no
bairro, em 1990, recusando 32 painéis
de fotos. Fizemos na rua, em frente.)

"Adeus, Corina, dam-dam... / vou-me embora,
quem me leva?! / (...) Levo penas e saudades, 
/ coração para te amar"! -- mestre CAMAFEU
DE OXÓSSI, 1968, num LP inesquecível.

Se eu não vou mais até a Capoeira -- por vontade própria ou mero capricho -- coube ao Destino trazê-la à minha porta. Eis que me chega às mãos em um microcartão de memória mas de 70 "takes" atuais da Capoeira Angola praticada em Paris e outras cidades da Europa. O "jogo de angola", à primeira vista, nos parece uma prática bastante repetitiva... só com o tempo se percebe as "nuances" ocorridas na "dança" e o grau de criatividade instantânea de cada praticante. Ver e saber que a Capoeira tradicional vem tendo um espaço seleto e cativo nas terras do "Rei-Sol" é altamente encorajador. O "jogo de angola" é o que mais "aproxima" África e Brasil, pela manutenção das raízes milenares, já que a ex-Luta Baiana -- desde sua criação -- "encampou" tantas práticas externas que quase perdeu a essência africana dos que a referendaram como prática.
Aliás, Rugendas (ou Debret?) num quadro magistral de 1800 e pouco eternizou a principal "diferença" entre elas: a luta contra a dança! Assistir dezenas de jovens alunos absolutamente tranquilos durante a prática, sem ansiedade visível, sem a beligerância típica dos ambientes nacionais -- sem "Rambos" nem Tarzans de músculos à mostra e prepotência no olhar -- me dá uma satisfação incrível. A Capoeira mudou, digo melhor, voltou aos seus primórdios, ais dias de Roda na frente das Igrejas centenárias, no cais de portos e nas areias das praias vazias, sábados de tardezinha, pouca gente e muito "ashé".

Se mestre "Guará" me permite um "aparte", eu diria que seus jovens alunos deveriam conhecer "o outro lado do muro". Estar (bem) preparado como angoleiro pode não ser suficiente para um futuro embate com algum "Regional" sedento de sangue. Por outro lado, sendo felizes no estilo Angola não têm porque se interessar pela prática "oposta". 

Mestre "Guará" abre os registros de sua atuação na França com uma dedicatória (de 17 minutos) que muito nos envaidece. Nos mostra a mais recente obra de André Lacè, a meu ver um dos pesquisadores mais completos do país, apesar de uma ou outra incorreção, segundo soube, o que não invalida de forma alguma o seu excelente trabalho. Espero que mestre "Guaraminfô" tenha coragem ou disposição para ler inteiro um calhamaço de mais de 400 páginas. Falta somente mestre CÉSAR - da USP, se vivo fôr -- se manifestar, tem um acervo de músicas SEM IGUAL no país inteiro, além de textos e livros diversos, tudo "fechado a 7 chaves". A Capoeira precisa desse altruísmo, que nem todos têm... eu pelo menos não tenho "vocação" para ser S. Francisco de Assis.

A maior surpresa foi saber que, em breve, o Grupo ECAP fará novo disco, CD no caso e, se tudo correr bem, teremos meu irmão e eu algo nosso gravado. Continuo sem entender quando foi que fiz por merecer tanta consideração... me sinto "intimado" a voltar às origens, principalmente porque saí da Capoeira mas ela não saiu de mim, ainda mais quando o assunto é MÚSICA. "Capoeira pra mim é oração, / daquelas que não se reza todo dia"... "avise aos amigos que estou voltando, / descalço, cansado, mas sigo caminhando". Ê, ê, tum-tum-tum... olha a "pisada" de "Lampiãio"! 
"NATO" AZEVEDO -- 5/abril 2015

NOTA DO AUTOR: (8/abril) -- Anteontem me cumprimentou um certo Ronilson, MESTRE Ronilson, frisou êle. (Pegou o "bonde" errado, conhecia meu irmão gêmeo, não a mim.) Não sei porque se faz tanta questão do título por aqui, pessoas que sequer têm Grupo, não dão aulas em lugar algum, por vezes nem mais praticam a Capoeira... mas se apresentam como mestres em todo canto onde vão.
Apesar das Federações e de uma Confederação lamentável, a Capoeira AINDA É folclore, continua sendo FOLCLORE e, como todo folclore, títulos não "nascem" de diplomas ou certificados, se consolidam a cada dia pelo trabalho de professor, por sua dedicação e construção do seu Grupo, pelo seu conhecimento real, pelos alunos que faz, poucos mas bons. Conheci os 2 nomes maiores dela aqui em Belém, convivi com ambos entre 1988 e 90...as definições acima não se encaixam na figura de nenhum. Como então ficaram tão famosos? Nem Deus sabe!

Ver a Capoeira ser tratada com tanta CONSIDERAÇÃO e carinho na França e em outros países só me envergonha. Conheço jovens ensinando em EPs do Pará desde os anos 80... nenhuma regalia, nenhuma pintura nas paredes descascadas do local de treino, nenhum RECONHECIMENTO pelo esforço e persistência dos então professores, hoje merecidamente MESTRES. Enquanto isso, um folgazão qualquer recebe 10 MIL reais dos "IFAMs da vida" pela fama que tem !
Pela Internet o poeta Rufino Almeida diz não entender como se pode ser anti-Brasil ! Basta se ver como são tratados os esportistas em qualquer área, para se compreender. A CAIXA trilhionária (próximo patamar nos escândalos nacionais) diz investir fortunas nos esportes... para onde vai realmente essa dinheirama toda ? Para o esportista é que não é!
("NATO" AZEVEDO)